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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pensando gestão rural - e o preço das terras no Brasil

Coluna Jornal das Missões- 01.08.2013


Carolina Bilibio é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras, com estágio na Universidade de Kassel, Alemanha. Possui graduação em agronomia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
 
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Pensando gestão rural - e o preço das terras no Brasil

Há quem diga que o preço das terras se desvalorizará, mas será mesmo? É sabido que o mundo possui 13 bilhões de hectares de solo, destes, 4,4 bilhões possuem potencial de utilização como terras agrícolas, dois quais são cultivados atualmente 1,5 bilhões - aproximadamente 12% dos solos disponíveis no globo (FAO, 2011). Cerca de 90% da área restante com potencial de utilização agrícola no mundo situa-se na América Latina e na África Subsaariana, e mais de 50% em sete (7) países: Brasil, República Democrática do Congo, Sudão, Angola, Argentina, Colômbia e Bolívia (FAO Statistical Yearbook, 2012).
Nos últimos 50 anos, a área global cultivada por pessoa reduziu, passando de 0,44 hectares para 0,25 hectares, enquanto a produção agrícola mundial multiplicou entre 2,5 e 3 vezes. Mesmo com a intensificação e aumento da produtividade agrícola dos últimos anos, o mundo ainda carece de resolver o problema da fome, cerca de um bilhão de pessoas encontram-se em situações de desnutrição no mundo, principalmente na África Subsaariana (239 milhões) e na Ásia (578 milhões). Alguns estudos indicam que em 2050, uma pessoa a cada 20 indivíduos, estará em estado de desnutrição.
A população mundial continua em expansão. O mundo possui na atualidade 7,2 bilhões de pessoas, para 2025 se projeta uma população de 8,1 bilhões de pessoas e para 2050, uma população de 9,1 bilhões de pessoas (FAO, 2011). Esta população projetada para 2050 demandará 70% a mais de alimentos ao redor do globo podendo chegar a 100% relativo a 2009 em países em desenvolvimento.
O Brasil possui 851 milhões de hectares de solos, em 70% deste total (596 milhões de hectares) não há atividade agrícola, pois incluem as áreas do Pantanal, da Amazônia, reservas florestais, reservas indígenas, estradas etc. Nos 30% restantes (255 milhões de hectares), são desenvolvidas as atividades de pecuária e agrícola. O cultivo das 62 principais culturas é realizado em cerca de 64 milhões de hectares (Ministério do Meio Ambiente, 2006)
A Agência de consultoria do agronegócio - Informa Economics - FN, avalia bimestralmente o preço das terras por meio dos negócios realizados ou por meio dos preços pedidos pelos proprietários de terras no Brasil e em vários Países. De acordo com este estudo, o preço médio das terras no Brasil no último bimestre de 2012 foi de R$ 7.473 por hectare, tendo uma elevação de 227% desde 2003, quando o preço médio das terras no Brasil era de R$ 2.280, com uma elevação de 12,6% ao ano, um pouco mais do que quase o dobro da inflação média anual, de 6,4% (Informa Economics FNP, 2013).
Quando se considera o preço médio das terras por região, se verifica que a Região Sul do Brasil foi a que apresentou no último bimestre de 2012 o maior valor médio por hectare, R$ 15.020, seguido pela Região Sudeste: R$ 12.345, Região Centro-Oeste: R$ 6.363, Região Nordeste: R$ 3.292 e Região Norte: R$ 2.228. É no Estado de Santa Catarina que se encontra a terra mais cara do país, em torno de R$ 43.000 por hectare.
Para complementar, quando se considera a valorização das terras no Brasil nos últimos 36 meses - de Janeiro de 2010 a dezembro de 2012, a Região Centro-oeste se destaca, com uma valorização média de 82%, seguida pela Região Nordeste - 62,2%; Região Norte - 56,6%, Região Sudeste - 56,9% e Região Sul - 58,3% (Informa Economics FNP, 2013). Quando se considera a valorização das terras nos últimos 10 anos, as terras que mais se valorizaram foram as da Região Nordeste e a Norte. No Nordeste, o preço do hectare subiu 13,5% ao ano – principalmente nos estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia; e no Norte, a valorização anual foi de 13,3%.
Após os dados apresentados, sobre a valorização das terras no Brasil, e considerando ainda a projeção do aumento da população, aumento da demanda de alimentos e energia, necessidade de combater a fome e desnutrição, problemas com desertificação que compromete cerca de 12 milhões de hectares por ano, salinização de áreas cultivadas que ocorre em 10 milhões de hectares anualmente, que a terra é um ativo que não se multiplica e que ainda é por meio da terra que se produz alimentos, se questiona: haverá mesmo uma desvalorização das terras produtivas no Brasil?

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Pensando gestão rural - e os desafios e as vantagens dos trópicos

Coluna Jornal o Celeiro - 28.09.2012

Carolina Bilibio             
               
Pensando gestão rural - e os desafios e as vantagens dos trópicos

                Entre os dias 11 e 18 de setembro de 2012 aconteceu na Universidade de Giessen, Alemanha, o curso de verão: desafios e as vantagens dos trópicos. Os 25 participantes de três continentes, Africa, Asia e América latina, foram convidados pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico para participar do curso e posteriormente atender o Tropentag, dia dos (Sub) Trópicos, na Universidade de Göttingen, Alemanha, entre os dias 18 e 21 de setembro. Os temas discutidos incluiram: Agricultura e segurança alimentar; Gestão da água; Energia renovável para o desenvolvimento e segurança; Conservação da biodiversidade; Gestão geral de recursos.
                Os principais desafios discutidos relacionados aos temas foram: (1) necessidade  de intervenções tecnológicas e formulação de programas de desenvolvimento que visem produtividades mais elevadas das principais culturas agrícolas, já que a atividade econômica predominante da região dos trópicos é agricultura e o desenvolvimento atual desta atividade não está sendo suficiente para garantir o abastecimento de alimentos na região; (2) necessidade de desenvolver mecanismos para aumentar a quantidade e qualidade da água na região dos trópicos; utilização de água residual; tratamento de água; mecanismos de cobrança de água; (3) conscientização da importância da utilização da energia renovável e a necessidade de cooperação regional para aumentar a capacidade de investimento no setor, mitigando desta forma, os altos custos dos investimentos iniciais; (4) manutenção das práticas tradicionais sustentáveis das comunidades locais que atendam também as demandas econômicas; (5) formulação de políticas públicas participativas; troca de experiências entre países que possuem boas práticas de gestão dos recursos naturais; cumprimentos de leis; gestão do uso e disponibilidade da terra; (6) necessidade de pesquisa sobre os principais impusionadores e também barreiras para a integração regional como estratégia para a competitividade global; cuidado com aplicações de pronunciamentos globais a nível regional e local, para evitar abordagens de uma solução única.
                Os temas foram discutidos por meio de apresentações realizadas pelos pesquisadores-participantes, entre as quais destacou-se a intervenção do Ministro da Agricultura da Índia, o qual descreveu que a Índia tem sua economia baseada na agricultura, que consome 56% da força de trabalho e contribui com mais de 16% do Produto Interno Bruto. As principais culturas cultivadas são: trigo, arroz, milheto, oleagionas/leguminosas, frutas e vegetais. Os desafios da agricultura na Índia são: baixa mecanização; domínio de pequenas propriedades, mais de 80% dos agricultores tem menos de 1 (um) hectare; baixa produtividade de grãos; elevada exploração de águas subterrâneas; baixo valor agregado dos produtos; baixa fertilidade dos solos; incerteza nos preços agrícolas. Consequentemente, as medidas dos programas governamentais para desenvolver o setor incluem demonstrações de técnicas de conservação do solo e da água, demonstrações de técnicas que visem o aumento de produtividade, disponibilidade de crédito para aumento da mecanização, promoção da micro irrigação.
                Outra intervenção com contribuições importantes foi realizada pelo Diretor Geral do Instituto da Conservação da Biodiversidade da Etiópia, o qual destacou o papel da agrobiodiversidade (ou biodiversidade agrícola) para a segurança alimentar e adaptação às alterações climáticas, enfatizando que a agrobiodiversidade promove a manutenção da fertilidade do solo, controle de doenças e pragas, manutenção do ciclo hidrológico, controle da erosão, sequestro do carbono.
                Por fim, destaca-se que o curso teve como objetivo final, a formação de networks para o desenvolvimento de futuros projetos de pesquisa entre os países /instituições participantes

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Espaço Nordestino









Pensando gestão rural - Planejamento estratégico: é preciso(!?)

Coluna Jornal o Celeiro - 29.06.2012
                                          
Pensando gestão rural - Planejamento estratégico: é preciso(!?)
Planejamento de longo prazo não lida com decisões futuras, mas com o futuro de decisões presentes” (Peter Drucker)
Atualmente, a globalização da economia exige que os produtores rurais se transformem em empresários rurais, através de uma nova postura gerencial que demanda uma ampla gama de conhecimentos gerais e o domínio na condução do negócio, levando o agricultor a lidar com aspectos técnicos, econômicos, mercadológicos, de recursos humanos e ambientais. Estas mudanças elevam a complexidade gerencial da produção agrícola, tornando indispensável que o empresário rural tenha estratégias de gestão bem definidas, pratique planejamento e, através de orçamentos e do conjunto de informações numéricas da sua empresa, possa aperfeiçoar a tomada de decisão permitindo ganhos de eficiência que podem garantir a sua continuidade, apesar das margens de rentabilidade cada vez mais apertadas, acompanhando a tendência de outros segmentos competitivos da economia. O Planejamento pode ser considerado como um processo, desenvolvido para o alcance de uma situação desejada de um modo mais eficiente e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos pela empresa. Já o Planejamento estratégico é uma técnica administrativa, que através da análise do ambiente externo e interno de uma organização, desenvolve a consciência das oportunidades e ameaças de um empreendimento, dos seus pontos fortes e fracos para o cumprimento da sua missão, com estratégias adequadas para aproveitar as oportunidades e evitar os riscos no contexto do cenário futuro. O planejamento estratégico nas empresas rurais, aquelas que exploram a capacidade produtiva dos solo, através do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas, pode contribuir para a analise de seu ambiente externo e interno, destacando-se as principais oportunidades e ameaças com relação a evolução da empresa para cumprir sua missão, considerando algumas tendências do setor agrícola, que podem estar relacionadas a produção orgânica, novas formas de comercialização, novas tecnologias, novas formas de financiamento, facilidade de acesso as informações, clima. Já na análise do ambiente interno da organização evidencia-se os pontos fortes e fracos da empresa, que podem afetá-la no decorrer da sua evolução, como os índices de produtividade, sistema hídrico, armazenagem. Mas este processo é constante, principalmente quanto a implantação do plano, para concretizar ao longo do tempo os objetivos da empresa.
Carolina Bilibio, é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade de Lavras/UniKassel. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br

domingo, 21 de julho de 2013

Pensando gestão rural - e o manejo da água em áreas irrigadas no Brasil

Coluna Jornal das Missões- 25.07.2013


Carolina Bilibio é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras, com estágio na Universidade de Kassel, Alemanha. Possui graduação em agronomia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
 
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Pensando gestão rural - e o manejo da água em áreas irrigadas no Brasil

A agricultura irrigada é o setor que mais consome água no mundo, cerca de 70% das águas retiradas de rios e lagos é utilizada em irrigações, chegando a 95% em países em desenvolvimento (Duehrkoop, 2011).  Considerando que água é um fator limitante em várias regiões do globo devido a problemas com disponibilidade, qualidade e conflito com outros setores como energia, indústria, consumo humano e animal, torna-se crucial na atualidade o uso racional deste recurso – a água.
Para implantar um sistema de produção irrigado não basta a aquisição dos equipamentos necessários para aplicar ou distribuir a água, é preciso também, pensar sobre os critérios que serão utilizados para realizar o manejo das irrigações, ou seja, quando iniciar as irrigações e quanto de água aplicar em cada irrigação.
Com um correto manejo da irrigação, obtém-se economia de água e energia, ganhos em produtividade e qualidade dos produtos. Porém, com manejo inadequado, pode ocorrer deficiência de água no solo -  reduzindo a produção e/ou a qualidade do produto; ou excesso de água no solo - resultando em perdas de água e energia, lixiviação de nutrientes com risco de contaminação do lençol freático.
O momento de irrigar é dependente do turno de rega (intervalo entre as irrigações - dias) empregado, podendo ser fixo – por exemplo, irrigações a cada 3 (três) dias, ou variável, irrigando sempre que forem atingidos teores críticos de água no solo. O teor crítico de água no solo, identificado por meio de experimentos, é representado pelo teor de água entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente, abaixo do qual a planta gasta energia para consumir água, comprometendo conseqüentemente o desenvolvimento da cultura.
A determinação do intervalo entre irrigações é dependente do método ou sistema de irrigação. No sistema convencional de irrigação por aspersão, o turno de rega é calculado considerando a água disponível real. Na irrigação com pivô central, o intervalo entre irrigações é em função do consumo diário da cultura. Na irrigação localizada, se utiliza um pequeno intervalo entre irrigações, com o objetivo de manter o teor de água próximo à capacidade de campo – quantidade máxima que um solo pode reter de água após uma chuva ou irrigação.
  O manejo da irrigação pode ser realizado por medidas no solo, na planta ou climáticas (Silva, 2007).     O manejo via solo é realizado a partir do monitoramento da umidade no perfil do solo, sendo os principais equipamentos: tensiômetro, reflectometria no domínio de tempo (TDR), sonda de nêutrons, blocos de resistência elétrica. O tensiômetro é um dos equipamentos mais utilizados por possibilitar o conhecimento indireto do teor de água no solo, facilidade de utilização e baixo custo.
No manejo via clima, são utilizados métodos baseados em medidas climáticas na avaliação das necessidades hídricas da cultura. Com base nos dados de monitoramento climático é possível a determinação da evapotranpiração de referência (ETo), e a partir de coeficientes apropriados como o coeficiente da cultura - Kc, pode-se obter a evapotranspiração máxima da cultura (ETm).  Os métodos incluídos nessa categoria são o tanque classe “A” e equações empíricas, que utilizam medidas de radiação solar, umidade relativa do ar, velocidade do vento e temperatura do ar. O manejo da irrigação via planta consiste em determinar o grau de deficiência hídrica de uma cultura diretamente na planta, constituindo um método complexo, tendo sua principal utilização para fins de pesquisa. As principais técnicas de manejo de irrigação via planta são: (1) determinação da temperatura da parte aérea da planta por termômetro infravermelho; (2) medição do potencial hídrico foliar; (3) medição do fluxo de seiva.
Para concluir se destaca que a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desenvolveu um sistema para realizar o manejo das irrigações em áreas irrigadas - o Sistema Irriga. O Sistema Irriga está disponível em um portal na internet e estima a necessidade diária de água a ser aplicada em cada cultura para as próximas 24 e 48 horas. É importante que o agricultor interessado em implantar sistemas de produção irrigados verifique junto a assistência técnica desde o início da realização do projeto, a forma que o manejo das irrigações serão realizadas, evitando assim, gastos excessivos com energia e água, recursos que se utilizados em excesso ou escassez provocam danos ao rendimento físico e econômico das culturas.

Pensando gestão rural - e a Água que está acabando... (!?)

Coluna Jornal O Celeiro - 26.04.2013


Carolina Bilibio            Carolina Bilibio, é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras/UniKassel. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br

Pensando gestão rural - e a Água que está acabando... (!?)

                A água é um recurso indispensável para a sobrevivência do homem e dos demais seres vivos no planeta. Desde que acordamos passamos a fazer o uso da água, utilizada na maioria das atividades do homem, tais como higiene, limpeza, alimentação, produção, energia etc. Por ser tão importante à existência do ser humano, frequentemente participamos ou escutamos discussões referentes ao uso da água, os quais a tratam como um recurso finito. Mas, será mesmo que a água está acabando? Pois bem, vamos aos números. As terras emersas no planeta representam 29% da superfície do planeta enquanto a água cobre 71% da área planetária. Porém, 97% desta água é salgada e está concentrada nos oceanos, restando 2,07% de água doce concentrada nas geleiras polares e somente 0,63% (ou ainda menos do que isso de acordo com outras bibliografias) de água doce disponível em rios e lagos, dos quais a humanidade pode realizar alguma utilização. É importante observar ainda, que a quantidade de água no planeta - 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos, tem se mantido constante durante milhões de anos, pois o ciclo da água é fechado, ou seja, a ocorrência da evaporação da água na superfície dos oceanos e a evapotranspiração, que representa a transpiração das plantas e evaporação do solo no continente, promovem a condensação do vapor da água na atmosfera que irá formar as nuvens. Quando as gotículas de água presentes nas nuvens vencer a força da gravidade, a água retorna aos oceanos e continente na forma de precipitação líquida - chuva, ou sólida - neve. Desta forma não têm existido alteração na quantidade de água planetária.   
                Qual é então, a fonte de preocupação com a água, de que tanto se fala!? Existem dois principais desafios relacionados  a ela. O primeiro deles, é com relação à disponibilidade de água, por exemplo, embora o Brasil possua 12% das reservas mundiais de água doce, 80% desta disponibilidade se encontra na região amazônica onde se concentra somente 7% da população nacional, por outro lado, a região nordeste, possui 3,3% das reservas nacionais de água doce e 27% da população brasileira e por as outras regiões, possuem 16,7% das reservas de água doce nacional e 66% da população do Brasil. Estas diferenças não proporcionais entre a disponibilidade de água e a população é verificada em outros países e com situações ainda mais críticas, como a Jordânia, Egito e Israel, que possuem uma disponibilidade de apenas 500 m3.habitante-1.ano-1, enquanto estima-se que a necessidade mínima de uma pessoa seja 2000 m3.habitante-1.ano-1. O segundo desafio relacionado à água é com a qualidade. No Brasil, 85% dos esgotos produzidos são lançados nos cursos dos rios e lagoas, e um litro de esgoto inutiliza pelo menos 10 litros de água limpa. Em nível mundial existem 3 bilhões de pessoas, 42% da população (Brasil: 37% dos domicílios) sem saneamento básico, que como o próprio nome diz, é no mínimo, básico! De acordo com a Organização das Nações Unidas - ONU, a falta de saneamento provoca a morte de 1,6 milhão de crianças por ano por doenças associadas, como a diarreia.
                E o setor agrícola, precisa se preocupar com a água? Claro que sim, a deficiência hídrica ainda é uma das principais causas da baixa produtividade média das culturas. Aos produtores rurais cabe utilizar manejos que promovam a maior disponibilidade da água na sua propriedade e região, com manejos de conservação do solo e água, que minimizem a compactação do solo, já que o maior adensamento do solo diminui o espaço poroso e desta forma, a capacidade de retenção de água, a compactação aumenta ainda o escoamento superficial e a erosão. Um solo bem estruturado tem maior capacidade de infiltração, redistribuição e consequentemente, maior capacidade de armazenamento de água. A cobertura do solo com matéria orgânica (palha) contribui para reduzir a evaporação da água no solo, que poderá ser utilizada no atendimento da transpiração das culturas.
                Finalmente, se destaca que 22 de março foi o dia mundial da água, mas muito ainda precisa ser feito para comemorar este dia. 2013 foi declarado o ano internacional de cooperação pela água, pela Organização das Nações Unidas, com o objetivo de buscar e combater os problemas relacionados  a mesma. Fica a reflexão sobre a água como um convite para pensarmos medidas individuais que possam contribuir para a maior disponibilidade e qualidade da água coletiva.


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Coluna Jornal O Celeiro - 25.07.2013

Coluna Jornal O Celeiro - 25.07.2013


Carolina Bilibio é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras/UniKassel. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
 
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Pensando gestão rural - e a agricultura familiar no Brasil

                A definição de agricultura familiar inclui aspectos relacionados ao tamanho da propriedade, predomínio de mão-de-obra familiar e gestão familiar da unidade produtiva (Junqueira & Lima, 2008). De acordo com a lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, da Presidência da República que estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,  simultaneamente, aos seguintes requisitos: - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; - tenha percentual mínimo da renda familiar (em torno de 50%) originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.
                O módulo fiscal, instituído pela Lei nº 6.746, de 10 de dezembro de 1979, é uma unidade de medida agrária que corresponde à área mínima necessária a uma propriedade rural para que sua exploração seja economicamente viável (Landau et al., 2012 - Embrapa Milho e Sorgo). A determinação do módulo fiscal é realizada para cada município considerando os tipos e a renda obtida com as explorações predominantes - horticultura, cultura permanente ou temporária, pecuária ou florestal. O módulo fiscal varia de 5 a 110 hectares, no município de Santo Augusto o módulo fiscal é de 16 hectares, Ijuí - 20 hectares, Chiapeta - 20 hectares.
                A agricultura familiar no Brasil é responsável por 84,4% (4.367.902) do total de estabelecimentos rurais (IBGE, 2006) e utilizam 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. A região nordeste e a região sul do país são as regiões que mais concentram empreendimentos agrícolas familiares, 50% e 19,2% do total respectivamente. A agricultura familiar é também responsável por pelo menos 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira, é a agricultura familiar que produz 87% da produção nacional da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo, 58% do leite, concentra 59% do plantel de suínos, 50% do plantel de aves, 30% dos bovinos (IBGE, 2006). Por outro lado, os estabelecimentos rurais não familiares que representam 15,6% do total dos estabelecimentos têm a importância de produzir commodities que possibilitam a ampliação das exportações e a geração de saldo comercial positivo entre as exportações e importações no país.
                Mas não é só no Brasil que existe agricultura familiar. Nos Estados Unidos, o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos define agricultura familiar como qualquer fazenda organizada pela família, pode ser um indivíduo, uma sociedade ou corporação familiar. A agricultura familiar não inclui cooperativas e fazendas com gestores contratados. A agricultura familiar é responsável por 96% das fazendas americanas (Serviço Nacional de Estatística Agrícola, 2007) e está subdividida em fazendas familiares muito grandes com faturamento superior a $500.000; fazendas grandes, com faturamento entre $250.000 e $500.000; e fazendas familiares pequenas, com faturamento inferior a $250.000 e que representam cerca de 90% do total de empreendimentos agrícolas americanos.
                Na União Europeia, 47% do território é classificado como agrícola e cerca da metade da população reside em áreas rurais, incluindo comunidades de agricultores. A média das propriedades na União Europeia é de 15 hectares (Comissão Europeia, 2012). Para fins de comparação, a área média dos estabelecimentos familiares no Brasil variou de um mínimo de 13 hectares no Nordeste a um máximo de 43,3 hectares no Centro Oeste. Já a  área média dos estabelecimentos não familiares variou de um mínimo de 177,2 hectares no Nordeste a um máximo de 944,3 hectares no Centro-Oeste (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2006).

                Para finalizar, é sempre importante destacar a importância de produzir alimentos com qualidade. Os dados publicados recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa (2011) indicam que apenas 37% dos produtos alimentares avaliados, como pimentão, morango, pepino, alface, cenoura, e outros estavam livres de agrotóxicos. A saúde da população também é de responsabilidade de quem produz alimentos. Dia 25 de julho se comemora o dia do Colono e Motorista e a sociedade agradece o trabalho destes profissionais incansáveis que alimentam e impulsionam o desenvolvimento do País. 

Feliciano quer vetar projeto de auxílio a vítima de estupro

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terça-feira, 16 de julho de 2013

ESPAÇO CIENTÍFICO

Pensando gestão rural - e a produção orgânica de alimentos no Brasil

Coluna Jornal das Missões- 18.07.2013  

Carolina Bilibio é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras, com estágio na Universidade de Kassel, Alemanha. Possui graduação em agronomia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
 
IMG_2211  Pensando gestão rural - e a produção orgânica de alimentos no Brasil              

O sistema de produção orgânico visa à produção de alimentos ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente justa. De acordo com a Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2003, considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que otimiza o uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e respeita à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos (...) em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização dos produtos. No Brasil, as agriculturas biodinâmica, biológica, permacultura, ecológica, agroecológica, regenerativa, sustentável e natural integram as correntes do movimento orgânico.                Para comercializar produtos orgânicos, estes devem ser certificados. Mas o que é a certificação de produtos orgânicos? A certificação de produtos orgânicos é o procedimento pelo qual uma certificadora, devidamente credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), assegura por escrito que determinado produto, processo ou serviço obedece às normas e práticas da produção orgânica, depois disso, o produtor passa a utilizar o selo de certificação no rótulo ou embalagem do produto. O Brasil possui selo padrão, disponibilizado pelo Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg) a partir janeiro de 2011 que é utilizado em todos os produtos que possuem avaliação da qualidade orgânica. No exterior, o órgão internacional que credencia as certificadoras é a IFOAM, International Federation of Organic Agriculture Movements. A certificação é fundamental, pois é ela que garante que o produto foi produzido dentro dos padrões agroecológicos, já que as principais características dos produtos orgânicos, como a ausência de produtos químicos, não podem ser visualizadas pelo consumidor. Até julho de 2012 havia 12 instituições credenciadas no Ministério da Agricultura brasileiro para certificar produtos orgânicos no país como a ECOCERT Brasil, IBD – Instituto Biodinâmico, IMO – Instituto de Mercado Ecológico, ECOVIDA – Rede Ecovida.                  No Brasil existem 1,5 milhões de hectares certificados (Mato Grosso - 622.855 hectares e Pará 602.690 hectares) e 90.000 produtores autodeclarados (IBGE, 2006), os principais produtos produzidos são produtos in natura - como frutas, verduras e legumes que são consumidos internamente, e commodities como soja e café que são quase que totalmente exportadas. Porém, os produtos processados como geleias, óleos, pães, vinhos, têm crescido nos últimos anos. Os agricultores familiares representam 90% do total de agricultores que produzem alimentos orgânicos e são responsáveis por cerca de 70% da produção orgânica brasileira. Cerca de 60% do valor produzido pela agricultura orgânica é proveniente das exportações, principalmente para os estados Unidos, União Europeia e Japão.                No mundo, a produção orgânica abrange uma área aproximada de 23 milhões de hectares, representando cerca de 1% do total das terras agrícolas mundiais. A maior parte destas áreas está localizada na Austrália (10,5 milhões de hectares), Argentina (3,2 milhões de hectares) e Itália (1,2 milhões de hectares). Por outro lado, o maior número de propriedades orgânicas encontra-se na Europa (44,1%) seguida pela América Latina (19,0%) e Ásia (15,1%). É na Europa também, mais especificamente na Alemanha, que acontece a maior feira de orgânicos do mundo, a BioFach. O evento é realizado todo o ano no mês de fevereiro, na cidade de Nuremberg e reúne cerca de 2.500 expositores de todo o mundo, abrangendo, além de alimentos, outros itens, como cosméticos e tecidos. Para finalizar, é importante lembrar que o consumo de produtos orgânicos, livres de agrotóxicos, fortalece a saúde, contribuem para a conservação dos recursos naturais e para a qualidade de vida do produtor e do trabalhador. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pensando gestão rural - com sustentabilidade!

Coluna Jornal o Celeiro - 27.07.2012
                                          
Pensando gestão rural - com sustentabilidade!
O termo desenvolvimento sustentável contempla um conjunto de conceitos relacionados ao uso dos recursos que visam atender as necessidades humanas. A Organização das Nações Unidas definiu em 1987 que desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que "satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades". Ou seja, sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico que utiliza os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Já a gestão rural, pode ser definida como “a ciência e a arte que busca a utilização racional dos fatores de produção (internos e externos), do ponto de vista técnico, econômico e social, respeitando os valores culturais do produtor rural, sua família, e ainda, suas organizações e o meio ambiente”. A administração ou gestão rural deve responder: o que produzir, como, quanto, com quais recursos e para quem. Porém, é papel da administração rural sustentável: (1) contribuir para que o produtor rural forneça matérias primas e ou produtos com a qualidade necessária, com custos compatíveis, economicamente viável (o produtor precisa ter renda), socialmente justo e ecologicamente correto; (2) viabilizar, "porteira a dentro", a utilização dos recursos - físicos, humanos, financeiros e mercadológicos, de maneira racional, por meio do planejamento, organização, direção e controle; (3) possibilitar, "porteira a fora", a participação e a atuação do produtor rural de forma conjunta: em cooperativas para a defesa dos interesses comerciais; em sindicatos para a defesa dos interesses políticos; em associação para a defesa de interesses específicos. Para complementar, a administração rural sustentável deve possibilitar que o produtor, dentro ou fora da porteira, crie e agregue valor (quantificável ou não) aos seus produtos, por meio da prestação de seus serviços, já que é a natureza que produz, é a planta que produz o grão, é a vaca que produz o leite... E de que forma este serviço está sendo realizado? Cabe ressaltar que os desafios da gestão rural podem estar relacionados (1) a ter organizações capazes de renovação contínua, automática e espontânea; (2) a tornar a inovação função de todos, todos os dias; e (3) a criar uma organização altamente envolvente onde todos dão o melhor de si. Por fim, destaca-se ainda que as estratégias de desenvolvimento rural podem contemplar (1) o desenvolvimento da multifuncionalidade, ou seja, as atividades agrícolas passam a ser articuladas a outros temas e preocupações, como a segurança alimentar, a qualidade dos alimentos, a proteção do meio ambiente, a valorização dos diferentes tipos de territórios e a geração de oportunidades de emprego, de renda e lazer; (2) a redução de insumos externos; (3) a pluriatividade, ou seja, a diversificação das atividades rentáveis, sempre lembrando que quanto mais diversificada é uma unidade de produção, mais complexa é a sua gestão; (4) a novas formas de cooperação local e (5) a melhorias na transformação insumo-produto. Estas reflexões fazem parte das discussões realizadas durante o Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), que acontece entre os dias 22 e 25 de julho 2012, na cidade de Vitória, Espírito Santo.


Carolina Bilibio, é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras/UniKassel. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Pensando gestão rural - e o crédito rural no Brasil -Coluna Jornal das Missões- 04.07.2013

Coluna Jornal das Missões- 04.07.2013


Carolina Bilibio é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras, com estágio na Universidade de Kassel, Alemanha. Possui graduação em agronomia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
 
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Pensando gestão rural - e o crédito rural no Brasil

O agronegócio, que compreende a soma de quatro segmentos (a) insumos para a agropecuária, (b) produção agropecuária primária (c) processamento e (d) distribuição, é responsável por 22% do Produto Interno Bruto do Brasil (Governo Federal, 2011). O agronegócio brasileiro é responsável ainda por um terço dos empregos e mais de 40% das exportações. Dada a sua importância para a economia brasileira, o governo tenta incentivar o setor agrícola por meio do crédito rural, atualizado a cada ano pelo chamado Plano Safra, divulgado normalmente entre os meses de junho e julho.
O crédito agrícola foi criado no ano de 1964, por meio da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, com os seguintes objetivos: (1) estimular os investimentos rurais para produção, extrativismo não predatório, armazenamento, beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários, quando efetuado pelo produtor na sua propriedade rural, por suas cooperativas ou por pessoa física ou jurídica equiparada aos produtores; (2) favorecer o oportuno e adequado custeio da produção e a comercialização de produtos agropecuários; (3) fortalecer o setor rural; (4) incentivar a introdução de métodos racionais no sistema de produção; (5) propiciar a aquisição e regularização de terras pelos pequenos produtores, posseiros e arrendatários e trabalhadores rurais; (6) desenvolver atividades florestais e pesqueiras; (7) estimular a geração de renda e o melhor uso da mão-de-obra familiar.
O crédito rural é aplicado por meio de três ferramentas: a) custeio - para cobrir despesas das culturas, incluindo itens desde a compra de insumos até a fase de colheita; b) investimento - para viabilizar a aquisição de bens duráveis, cujos benefícios repercutem durante muitos anos; c) comercialização - que auxilia o produtor rural e as suas cooperativas com mecanismos que viabilizam o abastecimento e o armazenamento da colheita nos períodos de queda de preços.
No ano de 2012, foram programados R$ 115,25 bilhões de crédito agrícola para a agricultura empresarial e R$ 18 bilhões para a agricultura familiar. Em 2012, 68% do crédito disponibilizado foi aplicado em atividades agrícolas - como o custeio da cultura da soja e do milho, e 32% em atividades pecuárias. Neste mesmo período, 37,12% do total de crédito agrícola foi disponibilizado para a região sul, 21,09% para a região centro-oeste, 29,31% para a região sudeste, 8,46% para a região nordeste e 4,01% para a região norte. A região sul do Brasil também concentrou a maior parte - 40%, do crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf, em 2012. De acordo com o Anuário estatístico do crédito rural, somente 0,1% do crédito rural é proveniente do tesouro nacional, ou seja, do caixa do governo, o restante é disponibilizado por meio de iniciativas privadas.
Já para a safra de 2013 está programado um crédito agrícola de R$ 136 bilhões, totalizando um aumento de 18% em relação à safra de 2012, e R$ 21 bilhões para a agricultura familiar. Parece ser um valor elevado, porém ainda inferior a maior quantia já liberada ao setor no ano de 1979, o equivalente a R$ 161 bilhões.
É importante lembrar que outros países - ou blocos econômicos, utilizam igualmente diferentes mecanismos para incentivar a produção agrícola. Na Europa, existe a Política Agrícola Comum - "Common Agricultural Policy - CAP", com o objetivo de garantir a qualidade de vida dos agricultores, assegurar o abastecimento de alimentos a preços viáveis aos consumidores, e desenvolver de forma equilibrada as áreas rurais integrantes da União Europeia que incorpora na atualidade 27 países. Nos Estados Unidos, o crédito agrícola é oficializado por meio de Políticas Agrícolas ("Farm Bill"), atualizadas de cinco em cinco anos na forma de uma nova Lei. A Lei agrícola publicada em 2008 e que estará em vigor até setembro de 2013, tem como principal tema: Alimentos, Conservação e Energia e como objetivos o aumento na oferta do número de vales-refeição - chamado de "food stamp", para pessoas carentes; maior apoio financeiro a produção de etanol; maior incentivo a pesquisas relacionadas a pragas, doenças e outros problemas agrícolas.

Por fim, se destaca que o crédito rural é uma ferramenta importante para o desenvolvimento das atividades agropecuárias e que certamente contribui para o crescimento da economia brasileira. Cabe ao agricultor brasileiro o arbítrio de utilizar o crédito rural ou não para prosseguir com as suas atividades.

Pensando gestão rural - e a irrigação no Brasil-Coluna Jornal das Missões

Coluna Jornal das Missões - 05.07.2013

Carolina Bilibio é doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Lavras, com estágio na Universidade de Kassel, Alemanha. Possui graduação em agronomia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí. Foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes. E-mail para contato: carolina.bilibio@yahoo.com.br
 
                                                              


Pensando gestão rural - e a irrigação no Brasil

                A irrigação pode ser entendida como a técnica artificial de aplicação de água na agricultura visando à melhoria da produção agrícola, tanto em quantidade como em qualidade. Na atualidade existem 5,5 milhões de hectares irrigados no Brasil. O estado que concentra a maior área de lavouras irrigadas é o Rio Grande do Sul, com 1,09 milhões de hectares, seguido por São Paulo - 500 mil hectares, Minas Gerais - 350 mil hectares, Bahia - 293 mil hectares e Goiás - 200 mil hectares. O Brasil possui ainda cerca de 30 milhões de hectares com potencial para implantar a irrigação, 14,6 milhões de hectares na região Norte, 4,9 milhões de hectares na região Centro-Oeste, 4,5 milhões de hectares na região Sul, 4,2 milhões de hectares na região Sudeste e 1,3 milhões de hectares na região Nordeste.
                As culturas com maior utilização da irrigação são cana-de-açúcar - 1,7 milhões de hectares; arroz em casca - 1,1 milhões de hectares; soja - 624 mil hectares; milho em grão - 559 mil hectares e o feijão - 195 mil hectares. Os principais métodos de irrigação utilizados no país são; aspersão, localizada e superfície.
                O método de irrigação por aspersão tem como principal característica o lançamento de jatos de água no ar que caem sobre a cultura na forma de chuva. Este método se adapta às diversas condições de solo e topografia, possui boa eficiência de distribuição de água, pode ser automatizado e transportado. Por outro lado, se verifica como limitações: os custos de instalação e operação; a influência do vento e umidade relativa; necessidade de água de boa qualidade para manter a vida útil do equipamento; potencial de surgimento e disseminação de doenças. Os sistemas mais usados de irrigação por aspersão são aspersão convencional (fixos, semifixos ou portáteis), pivô central e autopropelido.
                No método da irrigação localizada a água é geralmente aplicada em apenas uma fração do sistema radicular das plantas. As principais vantagens deste método é a economia de água - já que somente uma parte da área total é molhada, e a alta eficiência da irrigação - em torno de 90%. Por outro lado, a principal desvantagem é o custo inicial de implantação dos principais sistemas: o gotejamento e a microaspersão.
                No método de irrigação por superfície - considerado o método de irrigação mais antigo do mundo, a distribuição da água é realizada por gravidade por meio da superfície do solo. As principais vantagens deste método são: menor custo fixo e operacional requer equipamentos simples e possui baixo consumo de energia.  Todavia este método é o que possui maior consumo de água e a menor eficiência de aplicação da água, em torno de 60%. Os sistemas mais utilizados de irrigação por superfície são os sistemas de inundação e sulcos.
                E quais são os critérios para escolher um método e/ou sistema de irrigação? Alguns parâmetros importantes podem ser citados, como Topografia -– em áreas planas podem ser pode ser utilizados qualquer sistema de irrigação, porém nas áreas que não são planas devem ser adotados sistemas de aspersão (até 30% de declive) ou localizada (até 60% de declive); Solo - solos com alta capacidade de infiltração devem ser irrigados com aspersão e solos com baixa capacidade de infiltração devem ser irrigados com irrigação localizada. Cultura -  deve-se observar sistema e o espaçamento de plantio, a profundidade do sistema radicular, a altura de plantas e as exigências agronômicas. Outros fatores como o clima, fonte de água, aspectos econômicos, sociais, ambientais e humanos também devem ser observados.
                A irrigação também é utilizada em outros continentes e países. De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2009), o continente Asiático possui 47,2% da área cultivada sob sistemas de irrigação, incluindo a China com 58% e a Índia com 41,9% respectivamente. Entretanto,  a África do Norte possui 28,7% da área cultivada sob sistemas irrigação (Egito-100%), e a África Susariana, 3,6%. A América Latina possui 13,3% da área cultivada sob sistemas de irrigação, o Chile com 100%, seguido pelo Equador - 77%, Colômbia - 48%, e Brasil - 8% (Mundo - 22%).

                Para finalizar, é preciso enfatizar no dia 14 de janeiro de 2013 foi publicado a lei 12.787/2012 que trata da Política Nacional de Irrigação, visando incentivar a ampliação da área irrigada no país, aumentar a produtividade de forma sustentável e reduzir os riscos climáticos para a agropecuária. Já o Rio Grande do Sul instituiu o Programa Estadual de Expansão da Agropecuária Irrigada - Mais Água, Mais Renda por meio da Lei 059/2013, com o objetivo de objetivo de aumentar as áreas irrigadas e prevenir os efeitos das estiagens no estado. Este programa está à disposição de todos os agropecuaristas que pretendem implantar sistemas de produção irrigados.